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Análise das respostas brasileiras no Gender Census 2024 sobre linguagem pessoal - Versão de Impressão

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Análise das respostas brasileiras no Gender Census 2024 sobre linguagem pessoal - Aster - 16-05-2025

Para quem não sabe, Gender Census é uma pesquisa anual feita na língua inglesa que tenta medir quais são os termos usados como identificações por pessoas fora do binário de gênero. Isso inclui títulos, pronomes (que podem ser chamados adequadamente de pronomes por conta de ser na língua inglesa), identidades de gênero e termos relacionados (como trans, que é modalidade de gênero, ou enby, que é só uma forma substantivada de não-binárie derivada das letras NB). Aqui estão os resultados de 2024, os quais são os únicos que usei nesta análise.

Para contextualizar os dados a seguir, na pesquisa de 2024, as informações sobre pronomes são disponibilizadas em caixas separadas, sendo que é possível marcar quantas caixas quiser. Depois disso, é possível preencher as formas completas dos conjuntos que não eram opções prontas; acho que o limite é uns 20 conjuntos personalizados, pelo que indicam os números da planilha.

Estas são as caixas disponíveis:
  • They/them/their/theirs/themself (é notável o uso de themself ao invés da forma gramaticalmente correta mas mais apropriada para a versão plural, themselves), uma espécie de conjunto neutro padrão, usado como linguagem genérica para desconhecides e grupos até dentro da língua formal;
  • He/him/his/his/himself, equivalente a o/ele/o;
  • It/it/its/its/itself, conjunto usado para se referir a objetos, animais (em geral, porque dependendo vai ter gente preferindo usar linguagem com base no sexo) ou conceitos dentro da língua inglesa padrão, usado historicamente como insulto contra pessoas visivelmente queer/trans (da mesma forma que "isso" ou "aquilo") mas que tem gente que usa para si;
  • She/her/her/hers/herself, equivalente a a/ela/a;
  • E/em/eir/eirs/emself, conhecido como Spivak por conta de quem criou, tem a primeira parte do pronome como possível derivação de she e he (só que sem consoantes) e o resto é basicamente they/them sem "th";
  • Ey/em/eir/eirs/emself, conhecido como Elverson por conta de quem criou, é basicamente they/them sem "th";
  • Ae/aer/aer/aers/aerself, que flexiona de forma parecida com she/her mas tem som diferente;
  • Xe/xem/xyr/xyrs/xemself, que parece misturar conceitos de vários outros conjuntos além de inserir as letras X e Y para se destacar;
  • Fae/faer/faer/faers/faeself, provavelmente o conjunto de pronomes substantivados mais usado (é baseado em fae, um nome que descreve fadas ou seres similares;
  • Ze/hir/hir/hirs/hirself, um conjunto que usa she/her e he/him como base;
  • Ze/zir/zir/zirs/zirself, similar ao anterior mas de forma mais separada dos conjuntos binários;
  • Qualquer;
  • Questionando;
  • Evite usar pronomes/use nome ao invés de pronomes;
  • Um conjunto de pronomes não listado.

Das quase 50 mil pessoas que responderam, 321 marcaram que são do Brasil. Os dados a seguir são relacionados a tais 321 linhas.

18 pessoas marcaram que estão questionando seus pronomes, o que indica que apenas por volta de 5,6% das pessoas estão incertas sobre suas respostas acerca do assunto. Há bastante variação entre que pronomes as pessoas que estão questionando escolheram além desta opção, com they/them sendo mais popular (13 pessoas), sendo a única opção escolhida pela maioria das pessoas que estão questionando. Apenas 2 pessoas não marcaram nada além de questionando.

51 pessoas (15,9%) marcaram qualquer; que não possuem preferência, que tanto faz o pronome. Mesmo assim, só 3 pessoas das 51 decidiram marcar todas as outras caixas prontas de pronomes, enquanto outras 12 pessoas optaram por só marcar a caixa afirmando que aceitam qualquer pronome. Isso significa que a maioria das 51 pessoas ainda possui alguma preferência por certos pronomes, e, por conta disso, não vou excluir essas 51 pessoas das 321 para o resto das perguntas. Na pesquisa geral, 14,9% das pessoas marcaram que aceitam qualquer pronome.

Aliás, 70 pessoas (21,8%) marcaram que querem que o uso de pronomes seja evitado completamente, mas apenas 2 optaram por só marcar isso como opção, sendo que uma dessas pessoas também marcou que está questionando. Proporcionamente, o número é maior do que da pesquisa geral (13,9%).

Apenas 89 pessoas não marcaram que aceitariam os pronomes they/them. Acho que isso é relevante pelo quão comum é que as pessoas em espaços lusófonos rejeitem neopronomes ou até mesmo -/-/-, que seria o jeito de ter um "tratamento neutro" dentro da língua padrão. Isso significa que 72,3% das pessoas do Brasil que responderam aceitam they/them, uma proporção grande mas um pouco menor do que a da pesquisa geral (75,5%).

160 pessoas marcaram que usam he/him (49,8%) e 133 marcaram que usam she/her (41,4%), o que são proporções maiores do que da pesquisa geral (42% e 36%, respectivamente). 70 pessoas marcaram ambos os pronomes.

79 pessoas marcaram que usam it/its (24,6%). É uma proporção maior do que a geral (20,3%).

A escolha não embutida na gramática da língua inglesa mais popular na pesquisa geral é xe/xem, com 8,8% des respondentes marcando que usam tal  conjunto. Entre as pessoas do Brasil, temos 20 pessoas que marcaram que aceitam tal conjunto (6,2%).

14 pessoas marcaram que usam ae/aer (4,4%); 16 pessoas marcaram que usam fae/faer (5%); 8 pessoas marcaram que usam ambos. Quanto aes respondentes gerais, 3,8% aceitam ae/aer e 6,2% aceitam fae/faer.

14 pessoas marcaram que usam ze/zir (4,4%) e 15 pessoas marcaram que usam ze/hir (4,7%). 8 pessoas marcaram que usam ambos. Na pesquisa geral, 5% das pessoas marcaram ze/zir e 3,2% marcaram ze/hir.

10 pessoas marcaram que usam e/em (3,1%); 17 marcaram que usam ey/em (5,3%); 6 marcaram ambos (lembrando que isso inclui as 3 pessoas que marcaram todas as caixas). E/em também é menos popular do que ey/em na pesquisa geral (onde 3,6% e 4,3% das pessoas marcaram tais pronomes, respectivamente).

19 pessoas (5,9%) marcaram que usam pronomes não listados nas caixas a serem marcadas. Não vou ficar listando todos, mas aqui estão alguns destaques:
  • Duas pessoas listaram ze/zim/zis/zis/zimself. Não acho que é a mesma pessoa sendo contada duas vezes porque outras respostas são diferentes entre si;
  • Duas pessoas usaram esses campos para listar pronomes que já eram marcáveis. Alguns dos pronomes listados foram usados como variações plurais (themselves, emselves) e há também uma variação de e/em que usa er ao invés de eir (sendo que isso pode ser um erro de digitação);
  • Duas pessoas preencheram pronomes associados com vácuo (void/void/void's/voids/voidself e voi/void/void/voids/voidself). Uma outra pessoa colocou void no meio de um outro conjunto de pronomes, de forma que não sei se a pessoa não leu o que foi pedido e usa o pronome separadamente ou se o conjunto é mesmo xir/xim/void/fang/wolf;
  • Duas pessoas colocaram o pronome ve, uma como ve/ver/vis/vis/verself e outra como ve/vir/vir/virs/virself;
  • Uma pessoa colocou uma mistura de she com they (shey/shem/sheir/sheirs/shemself) e outra colocou uma mistura de como geralmente se usa she, he e they (she/him/their/theirs/herself);
  • Uma pessoa colocou pronome de emoji (?);
  • Contando ?, hy/hymn, he/hymn e os pronomes relacionados com vácuo, 10 pessoas inseriram pronomes relacionados com substantivos em suas opções personalizadas.

Além de pensar isoladamente no Brasil, eu queria dar uma olhada rápida em outros países. Eu não queria pegar amostras muito pequenas, então não usei os dados de países como Uruguai, Peru, Chile ou Colômbia, ainda que sejam relativamente próximos geograficamente/culturalmente e existam pessoas de tais países que responderam à pesquisa. Também não escolhi países onde a língua inglesa é a mais usada: nas Filipinas e na Suécia, há taxas altas de entendimento da língua inglesa (64%, 89%), muito maiores do que em países como Brasil (5%), México (12,9%) ou até mesmo Portugal (27%), mas a língua inglesa não parece ser a primária para a maioria das pessoas.

(Eu peguei tais dados sobre quantes têm domínio da língua inglesa da Wikipédia, que não é necessariamente confiável especialmente porque cada país vai ter um ano diferente ou até métodos diferentes de medir fluência, mas não acho que os dados exatos disso são tão importantes a ponto de precisarem ser exatos.)

Enfim, o ponto é que escolhi Portugal (86 respostas), por ser o outro país de língua portuguesa que está na lista; Argentina (131 respostas), por ser o único país com fronteira com o Brasil que parece ter um bom número de respostas; México (158 respostas), por ser um país da América Latina com uma população grande; Espanha (266 respostas), pelas línguas espanholas serem similares à portuguesa e haver um bom número de respostas; Suécia (357 respostas), por ter um número de respostas próximo ao Brasil; e Filipinas (133 respostas), para ter alguma referência fora da Europa e das Américas ainda que tenha sido um país que foi colonizado pela Espanha (algo em comum com alguns dos países já listados).

Em Portugal, 62 respondentes aceitam they/them (72,1%), 38 aceitam he/him (44,2%), 34 aceitam she/her (39,5%), 16 aceitam it/its (18,6%), 4 aceitam xe/xem (4,6%), 4 aceitam fae/faer, 4 aceitam ze/zir, 2 aceitam ey/em (2,3%), 2 aceitam ae/aer e 2 aceitam ze/hir. Ninguém respondeu que aceita e/em.

8 aceitam quaisquer pronomes (9,3%), e 5 dessas pessoas não marcaram nada além da caixa "qualquer".  Apenas uma pessoa falou sobre estar questionando (1,2%), e tal pessoa não marcou nenhuma outra caixa. 14 pessoas (16,3%) falaram que preferem ser referidas apenas com o nome, mas todas essas pessoas aceitam ao menos they/them, e metade também aceita he/him.

Entre as 8 pessoas (9,3%) que marcaram que usam conjuntos diferentes dos marcáveis, 3 pessoas diferentes usam ve/ver, mas com variações diferentes (onde os outros elementos são ver/vers/verself, vir/virs/verself e vis/vis/verself). 4 das respostas contém pronomes relacionados a substantivos, e as 7 respostas mencionadas são mutualmente exclusivas: a outra pessoa usa sie/hir/Hir/hirs/hirself.

Na Argentina, 92 respondentes aceitam they/them (70,2%), 71 aceitam he/him (54,2%), 58 aceitam she/her (44,3%), 22 aceitam it/its (16,8%), 10 aceitam xe/xem (7,6%), 5 aceitam ze/zir (3,8%), 3 aceitam ze/hir (2,3%), 2 aceitam fae/faer (1,5%), 1 aceita ae/aer (0,8%). Ninguém marcou que aceita e/em ou ey/em.

22 respondentes (16,8%) marcaram que aceitam quaisquer pronomes, sendo que, entre tais pessoas, 9 não marcaram nenhuma outra caixa, 10 marcaram ao menos they/them, 9 marcaram ao menos she/her e 7 marcaram ao menos he/him. Sem contar it/its, que 4 dessas pessoas marcaram, o único outro pronome marcado especificamente por quem marcou que usa qualquer pronome é xe/xem (marcado por 1 pessoa).

7 pessoas marcaram que estão questionando pronomes (5,3%), mas todas elas marcaram pelo menos alguma caixa especificando um pronome. 28 respondentes (21,4%) marcaram que querem que pronomes sejam evitados, mas só 3 entre essas pessoas não marcaram nenhum outro pronome.

Entre as 5 pessoas que falaram que usam pronomes não citados (3,8%), uma só usou um nome ao invés de pronome (sendo que a pessoa também marcou que aceita que pronomes sejam evitados) e 2 pessoas citaram pronomes substantivados. Há também duas versões distintas de ve/ver em respostas diferentes.

No México, 118 respondentes (74,7%) aceitam they/them, 73 aceitam he/him (46,2%), 68 aceitam she/her (43%), 31 aceitam it/its (19,6%), 13 aceitam xe/xem (8,2%), 13 aceitam fae/faer, 8 aceitam ze/hir (5,1%), 8 aceitam ze/zir, 6 aceitam ae/aer (3,8%), 6 aceitam ey/em e 4 aceitam e/em (2,5%) (sendo que todas estas pessoas também aceitam ey/em).

42 pessoas marcaram que aceitam quaisquer pronomes (26,6%), sendo que só uma pessoa marcou todas as caixas feitas para pronomes específicos e 10 pessoas só marcaram "qualquer". 6 pessoas mencionaram estar questionando (3,8%). 38 pessoas marcaram uma preferência por evitar pronomes (24%), sendo que só 2 entre tais pessoas colocaram esta opção como a única.

11 pessoas marcaram que usam outros pronomes (7%). Nenhuma dessas pessoas forneceu algum conjunto personalizado idêntico a outro, embora uma pessoa tenha inserido ve/vir/vis/vis/virself. Variações de xe (/xim/xis/xis/ximself) e de ze (/zei/zeir/zeirs/zeiself) também aparecem, assim como um conjunto "misturado" (they/him/her/pers/oneself). Ao menos 3 conjuntos baseados em substantivos, mas tenho dúvidas sobre qual é a base de outros dois (stee/har/har/hars/harself e leti/leti/u/utiaal/letiself).

Na Espanha, 209 pessoas marcaram que aceitam they/them (78,5%), 121 aceitam he/him (45,5%), 103 aceitam she/her (38,7%), 39 aceitam it/its (14,7%), 14 aceitam xe/xem (5,3%), 11 aceitam ey/em (4,1%), 10 aceitam fae/faer (3,8%), 9 aceitam ae/aer (3,4%), 9 aceitam ze/zir, 4 aceitam e/em (1,5%) (sendo que são todas pessoas que também aceitam ey/em) e 4 aceitam ze/hir.

49 pessoas marcaram que aceitam qualquer pronome (18,4%), sendo que 11 entre elas não marcaram outras caixas além dessa e ninguém marcou todas as outras caixas. 14 pessoas marcaram que estão questionando (5,3%). 58 marcaram que preferem que pronomes sejam evitados (21,8%), mas só uma dessas pessoas colocou apenas isso como preferência.

10 pessoas aceitam pronomes específicos que não foram listados ainda (3,8%). Ao menos 7 pessoas colocaram pronomes baseados em substantivos (contando aqui per/per/per/pers/perself e boo/boo/boos/boos/booself, mas não contando de/dim/dir/dirs/dirself, embora este conjunto talvez tenha sido baseado em algum substantivo). Os outros conjuntos foram shi/hir/hir/hirs/hirself e hy/hym/hys/hys/hymself.

Na Suécia, 278 pessoas marcaram que aceitam they/them (77,9%), 138 aceitam he/him (38,7%), 126 aceitam she/her (35,3%), 53 aceitam it/its (14,8%), 25 aceitam xe/xem (7%), 20 aceitam ze/zir (5,6%), 18 aceitam fae/faer (5%), 16 aceitam ze/hir (4,5%), 15 aceitam ae/aer (4,2%), 14 aceitam e/em (3,9%) e 13 aceitam ey/em (3,6%). Notei que uma pessoa marcou todas estas opções fora she/her, e provavelmente por isso não marcou a opção "qualquer" também.

60 pessoas marcaram a opção qualquer (16,8%), sendo que ninguém marcou simultaneamente todos os outros pronomes, 19 pessoas não marcaram mais nenhuma forma de tratamento (apenas uma destas pessoas marcou outra caixa, a voltada a quem está questionando) e 4 pessoas marcaram só "qualquer" e a opção de evitar pronomes. 59 pessoas (16,5%) marcaram a opção de evitar pronomes ao todo, sendo que só uma pessoa marcou esta como sua única opção de tratamento. 18 pessoas marcaram que estão questionando (5%), sendo que ninguém deixou de marcar outras opções por conta disso.

19 pessoas marcaram que também aceitam outros pronomes (5,3%), sendo que uma pessoa falou sobre usar ??/??s como pronomes, uma não marcou a opção de ey/em nas caixas mas colocou aqui Ey/Em/Eir/Eirs/Emself como sua única opção personalizada, outra não marcou a opção já fornecida de he/him mas preencheu todos os elementos menos um nos campos personalizados, outra forneceu os pronomes suecos hen/hennen/hens/henns/till sig själv como resposta e outra colocou they plural (themselves) como resposta). 9 pessoas preencheram pronomes substantivados, incluindo per/pers, star/stars (2 pessoas), voi/void, mew/mews e fey/fem.

Nas Filipinas, 96 pessoas marcaram que aceitam they/them (72,2%), 74 aceitam he/him (55,6%), 56 aceitam she/her (42,1%), 34 aceitam it/its (25,6%), 12 aceitam xe/xem (9%), 9 aceitam ze/zir (6,8%), 8 aceitam ae/aer (6%), 7 aceitam fae/faer (5,3%), 7 aceitam e/em - exatamente estas pessoas também são as únicas que marcaram ey/em - e 6 pessoas aceitam ze/hir (4,5%).

40 pessoas marcaram que aceitam quaisquer pronomes (30%), sendo que, entre tais pessoas, 10 marcaram esta opção e nenhuma outra. 15 pessoas marcaram que não querem que pronomes sejam utilizados (11,3%), sendo que ninguém marcou somente tal opção. Apenas 5 pessoas marcaram que estão questionando (3,8%).

17 pessoas marcaram que também aceitam outros pronomes (12,8%). 2 pessoas usam shi/hir, 2 usam sie/hir, o pronome ve aparece novamente em conjuntos diferentes (ve/vem, ve/vir, ve/vim). Ao menos 8 pessoas usam pronomes relacionados com substantivos. Também há o conjunto that/that/their/theirs/theirselves e o conjunto he/her/his/hers/themselves.

Algumas observações a partir disso:
  • A taxa de pessoas aceitando they/them foi entre 70 e 80% para todos os países listados; houveram diferenças, com as maiores taxas sendo na Espanha e na Suécia, mas o Brasil não tem uma taxa diferente muito de países como Portugal e Filipinas.
  • Nenhum dos países tem mais respondentes usando she/her do que he/him. Há a possibilidade disso ser uma questão das formas masculinas terem uma tendência maior de serem neutras, e talvez isso seja relevante, mas podem haver outras questões, como interesse ou acesso maior de pessoas transmasculinas. Dito isso, as Filipinas parecem ter a maior diferença percentual entre quantas pessoas aceitam he/him e she/her (13,5%), e tal dado é seguido da Argentina (9,9%), com o Brasil em terceiro lugar (8,4%).
  • No Brasil, praticamente metade des respondentes aceitam he/him. A taxa é ~5% maior na Argentina e nas Filipinas, mas é ~5% menor em Portugal e no México. A Suécia tem uma taxa significativamente menor (mais de 10% de diferença). Quanto a she/her, o Brasil tem uma taxa um pouco maior do que a de Portugal e da Espanha e um pouco menor do que da Argentina e das Filipinas, enquanto a Suécia tem uma proporção significativamente (mas não drasticamante) menor de quem aceita she/her (6,1% de diferença).
  • O uso de it/its por respondentes brasileires (24,6%) só não passa da porcentagem das Filipinas (25,6%). Todos os outros países tiveram menos de 20% des respondentes marcando que aceitam it/its, com a taxa maior sendo 19,6% no México e com a taxa menor sendo 14,7% na Espanha.
  • Xe/xem realmente foi o conjunto de neopronomes mais popular em todos os países listados, mas enquanto respondentes das Filipinas, da Argentina, do México e da Suécia variam entre 7 e 9% des respondentes marcando que aceitam, respondentes do Brasil (6,2%), de Portugal (4,6%) e da Espanha (5,3%) optaram menos pelo uso deste ou de outros neopronomes.
  • Em termos de números brutos, nenhum desses países teve mais de 25 pessoas escolhendo algum neopronome específico (não contando it/its). Comparando o Brasil com a Suécia, que teve um número relativamente próximo (ainda que maior) de respondentes, só tivemos mais pessoas que responderam que usam ey/em (17 do Brasil, 13 da Suécia), em relação aos neopronomes marcáveis, embora vários dos outros números estejam relativamente próximos. Também tivemos o mesmo número de respondentes usando neopronomes diferentes dos listados (19).
  • Os 5,9% de pessoas do Brasil que marcaram que usam neopronomes além dos listados são mais similares aos números da Suécia (5,3%) e do México (7%). A Argentina e a Espanha tiveram a menor taxa (3,8%), e as Filipinas tiveram a maior (12,8%), seguida de Portugal (9,3%).
  • Todos os países tiveram respondentes que falaram sobre usar pronomes substantivados, mesmo sem contar fae/faer, que já estava disponível para marcar.
  • As taxas de questionamento não foram muito diferentes, estando todas entre 3,8% (México, Filipinas) e 5,6% (Brasil), com a exceção de Portugal (1,2%, e isso por conta de uma única pessoa).
  • 30% des respondentes nas Filipinas aceitam quaisquer pronomes, quase o dobro do Brasil (15,9%). A taxa brasileira é mais similar às da Argentina, Espanha e Suécia, enquanto o México também tem uma taxa mais alta (26,6%) e a de Portugal é mais baixa (9,3%).
  • A taxa de pessoas confortáveis em serem referidas apenas com o nome é igual no Brasil e na Espanha (21,8%) e bem similar com a da Argentina (0,4% de diferença). E estas são as maiores taxas com a exceção do México (24%), sendo a das Filipinas (11,3%) menor até que a da média da pesquisa (13,9%).

Basicamente, não existe uma comparação muito similar do Brasil com qualquer outro dos países da lista. Os números de pessoas usando os neopronomes disponibilizados são parecidos com os da Suécia, mesmo proporcionalmente, mas isso pode ser mais uma questão de haverem mais respondentes em ambos os países. Enquanto isso, os números de pessoas usando she/her, he/him, they/them e it/its parecem ser mais similares aos das Filipinas e de Portugal.

Porém, uma coisa é certa: ao menos dentro de contextos anglófonos, há populações não-binárias confortáveis com neolinguagem, ainda que a maioria esteja também satisfeita com formas neutras embutidas na língua. Não é uma questão exclusiva de pessoas que vivem em territórios anglófonos, nas Américas ou na Europa.

Estou aberte a observações e dúvidas!