18-06-2017, 09:07 PM
Então, eu fui hoje na maior parada LGBTQIAPN+ do mundo - a Parada LGBT de São Paulo. A organização estima que hoje compareceram 3 milhões de pessoas no evento.
Em nome da bandeira gay, o Google Maps marcou o trajeto da parada em arco-íris. Os relógios digitais também tinham displays em arco-íris. Ao menos um Starbucks e um Subway próximos tinham bandeiras gays próximas a suas portas, e o Burger King deu coroas arco-íris. Haviam propagandas da Skol, da Smirnoff e de Doritos comemorativas da parada.
Eu fui com camisa branca, gravata borboleta arco-íris e bandeira genderqueer. Levei a assexual também, mas acabei não usando muito. Minha namorada estava com uma bandeira trans como capa, e levou a bandeira genderqueer boa parte do tempo.
Apenas uma dupla explicitamente reconheceu a bandeira genderqueer. Recebemos várias perguntas sobre o que era a bandeira, e alguns comentários sobre como adoraram a bandeira, mas mesmo com o quanto andamos para todos os lados daquela parada, foi só em uma ocasião que nos pararam para dizer como é bom ver uma bandeira não-binária na parada.
Aliás, não vimos nenhuma outra bandeira ou qualquer coisa genderqueer ou não-binária. Houve alguma representação de bandeiras e símbolos lésbicos, intersexo, bi, assexuais e trans (trans em maior quantidade), mas eram apenas pontinhos na imensidão de arco-íris.
Isso representa um grande problema que temos na comunidade: quantas pessoas ali sabem que pessoas não-binárias existem? Quantas pessoas ali sabem quais são as pautas das comunidades de ativistas trans e intersexo? Quantas pessoas ali sabem que pessoas bi e lésbicas possuem pautas próprias, que não se resumem às pautas da comunidade de homens gays?
Heck, quantas pessoas ali sabem nomear mais de 4 orientações? Quantas pessoas acham que ser gay é "gostar só do mesmo sexo", ignorando que pessoas trans, não-binárias e intersexo existem? Quantas pessoas sabem que ser bi é mais que "gostar de ambos os sexos"? Quantas pessoas sabem que mulheres e homens trans não são de gêneros diferentes de mulheres e homens cis?
Nesse último suposto "mês da diversidade", falaram bastante sobre pink money: sobre um apelo superficial das companhias e empresas para conseguirem dinheiro de ativistas LGBTQIAPN+, quando tal apelo não resulta em nenhum benefício real para qualquer identidade. E, sim, acho bastante suspeitas as propagandas que falam em orgulho e empoderamento, sem mostrar uma pessoa sequer em seus comerciais fora da internet - casais gays convencionalmente atraentes são clichês e certamente qualquer comunidade não representada reclamaria de qualquer tipo de representação, mas que tipo de empoderamento só quer mostrar cores bonitas e não qualquer tipo de pessoa na comunidade representada? - mas não são só as grandes empresas que reduzem a comunidade a festas e arco-íris.
Temos dias que consideramos de lutas, e dias que consideramos de festas, mas quando são nossos dias de educação? Aonde estão essas milhões de pessoas, ou ao menos alguma parcela considerável delas, em rodas de conversa sobre experiências trans, em palestras sobre racismo/capacitismo/misoginia/etc. na comunidade LGBTQIAPN+, em grupos de internet que falam sobre orientações e gêneros menos conhecidos, em palestras sobre monossexismo?
Aonde está nosso legado, quando as únicas experiências exclusivas da comunidade LGBTQIAPN+ brasileira são gírias e a teima em manter vocabulários em desuso gradual há decadas em outros países?
Em nome da bandeira gay, o Google Maps marcou o trajeto da parada em arco-íris. Os relógios digitais também tinham displays em arco-íris. Ao menos um Starbucks e um Subway próximos tinham bandeiras gays próximas a suas portas, e o Burger King deu coroas arco-íris. Haviam propagandas da Skol, da Smirnoff e de Doritos comemorativas da parada.
Eu fui com camisa branca, gravata borboleta arco-íris e bandeira genderqueer. Levei a assexual também, mas acabei não usando muito. Minha namorada estava com uma bandeira trans como capa, e levou a bandeira genderqueer boa parte do tempo.
Apenas uma dupla explicitamente reconheceu a bandeira genderqueer. Recebemos várias perguntas sobre o que era a bandeira, e alguns comentários sobre como adoraram a bandeira, mas mesmo com o quanto andamos para todos os lados daquela parada, foi só em uma ocasião que nos pararam para dizer como é bom ver uma bandeira não-binária na parada.
Aliás, não vimos nenhuma outra bandeira ou qualquer coisa genderqueer ou não-binária. Houve alguma representação de bandeiras e símbolos lésbicos, intersexo, bi, assexuais e trans (trans em maior quantidade), mas eram apenas pontinhos na imensidão de arco-íris.
Isso representa um grande problema que temos na comunidade: quantas pessoas ali sabem que pessoas não-binárias existem? Quantas pessoas ali sabem quais são as pautas das comunidades de ativistas trans e intersexo? Quantas pessoas ali sabem que pessoas bi e lésbicas possuem pautas próprias, que não se resumem às pautas da comunidade de homens gays?
Heck, quantas pessoas ali sabem nomear mais de 4 orientações? Quantas pessoas acham que ser gay é "gostar só do mesmo sexo", ignorando que pessoas trans, não-binárias e intersexo existem? Quantas pessoas sabem que ser bi é mais que "gostar de ambos os sexos"? Quantas pessoas sabem que mulheres e homens trans não são de gêneros diferentes de mulheres e homens cis?
Nesse último suposto "mês da diversidade", falaram bastante sobre pink money: sobre um apelo superficial das companhias e empresas para conseguirem dinheiro de ativistas LGBTQIAPN+, quando tal apelo não resulta em nenhum benefício real para qualquer identidade. E, sim, acho bastante suspeitas as propagandas que falam em orgulho e empoderamento, sem mostrar uma pessoa sequer em seus comerciais fora da internet - casais gays convencionalmente atraentes são clichês e certamente qualquer comunidade não representada reclamaria de qualquer tipo de representação, mas que tipo de empoderamento só quer mostrar cores bonitas e não qualquer tipo de pessoa na comunidade representada? - mas não são só as grandes empresas que reduzem a comunidade a festas e arco-íris.
Temos dias que consideramos de lutas, e dias que consideramos de festas, mas quando são nossos dias de educação? Aonde estão essas milhões de pessoas, ou ao menos alguma parcela considerável delas, em rodas de conversa sobre experiências trans, em palestras sobre racismo/capacitismo/misoginia/etc. na comunidade LGBTQIAPN+, em grupos de internet que falam sobre orientações e gêneros menos conhecidos, em palestras sobre monossexismo?
Aonde está nosso legado, quando as únicas experiências exclusivas da comunidade LGBTQIAPN+ brasileira são gírias e a teima em manter vocabulários em desuso gradual há decadas em outros países?