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Cringe culture
#1
Eu li uma postagem hoje falando sobre como SQWs (sim ainda chamo anti-SJWs disso, e nunca deveriam parar) e TERFs fazem blogs trolls fingindo ser peak SJW/trans, assim, blogs de pessoas que se dizem oprimidas das formas que esses grupos odeiam com opiniões extremistas como "matem todas as pessoas cis", e então outras pessoas acham que esses blogs são de verdade e assim espalham a mensagem de que "gente do Tumblr" age assim.

Isso forma uma cultura cringe, onde pessoas espalham isso sem questionar, o que coloca outras pessoas no lugar. Assim, se você é trans, você não deveria se envolver com ativismo trans porque "essa gente" quer matar todas as pessoas cis, ou obrigar pessoas a decorar listas enormes de gêneros, ou obrigar mulheres lésbicas a terem bebês de mulheres trans, e por aí vai. E se você é cis, você não quer apoiar pessoas trans, porque são todas desse jeito. Se você já é contra pessoas trans, isso reforça que pessoas trans são chatas, ignorantes e não conhecem a "vida real".

A postagem diz que se você quer espalhar coisas "cringe", você deve ver se a pessoa realmente quer dizer o que postou (a pessoa pode estar brincando, estar bêbada, ser muito nova pra saber o que fala), se a postagem é verdadeira, e se é representativa do grupo.

É fácil concordar que fazer graça de gente que ama desenhos animados ou o jogo do momento é bobagem e capacitismo, mas a cultura cringe é muito usada para fazer graça de opressores, ou de grupos marginalizados alheios pintados como opressores.

O que vocês acham disso? A cultura cringe pode ser usada para o bem? Ou só cria abismos maiores entre lados de qualquer discussão?
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#2
O que eu acho que começou a "cultura cringe" em ativismo social é o cansaço em receber as mesmas mensagens com os mesmos argumentos de novo e de novo.

Tipo, quando você vê a postagem #281 dizendo que "se gênero não tem nenhum significado em relação ao corpo ou à personalidade eu simplesmente posso dizer que sou uma demimulher e pronto, sou trans, ninguém pode reclamar que sou anti-trans agora porque eu sou trans", você não vai ter a paciência para dizer que ser trans não significa que você não pode perpetuar cissexismo ou prejudicar outras pessoas trans, que demimulheres sofrem discriminação, que geralmente não conseguem preencher seu gênero em fichas ou estar com pessoas do seu gênero em espaços separados, que podem ser obrigadas a serem consideradas "basicamente mulheres" mesmo não se sentindo 100% assim, que correm o risco de sofrerem exorsexismo dentro de programas para pessoas trans ou de grupos trans além de serem incompreendidas por pessoas cis, etc. Até porque a pessoa provavelmente não está nem aí.

Você vai dizer "marque você mesme eu sou o gênero sem significado em relação ao corpo ou à personalidade".

O problema é que mesmo que isso tenha começado com postagens discriminatórias, isso eventualmente veio a afetar questões de dentro da comunidade. Ou seja, começaram a dar respostas superficiais a pessoas que legitimamente só queriam provar que pessoas assexuais e arromânticas fazem parte da comunidade, ou que legitimamente queriam informar que fetichistas foram sim perseguides historicamente.

E aí as pessoas começam a não ligar para, digamos, insultos capacitistas ou manobras de cyberbullying, porque essas pessoas estão supostamente protegendo seu grupo oprimido contra um grupo opressor perigoso, ainda que esse grupo na verdade não seja opressor e não tenha poder político significante.

Eu não vejo problema em rir de pessoas que estão sendo ridículas, ainda mais quando é pouca a felicidade que você pode ter se você é parte do grupo marginalizado afetado. Porém, para quem tiver a energia e a habilidade para isso, peço que dediquem mais seus esforços a educar ou a auxiliar a própria comunidade do que a fazer blogs trolls fingindo serem TWERFs de forma que são caricaturas tão superficiais que podem ser mais danosas do que benéficas a longo prazo. Não deixem que grupos de opressories tenham a chance de se fazer de vítimas.

Tipo, eu amo gayhistorical e lgbt-cringe, mas muitos outros blogs se utilizam da ideia de ridicularizar opressories para fechar discussões que poderiam ser interessantes, ou para repetir as mesmas piadas que podem até ser danosas a outros grupos (quando focam em aparência ou em habilidade cognitiva, por exemplo), ao invés de fazer esforços mais legítimos de apoio e/ou de educação.
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#3
Mas e se não tiver danos a ninguém (sem bullying injusto ou discriminação), é justo tirar sarro só por tirar, ou isso ainda é prejudicial ao possível crescimento de quem fala merda?
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#4
Pra mim, isso entra nas várias questões onde não há uma resposta simples de "isso é a coisa certa a fazer" ou "isso é problemático e danoso".

Acho que faz todo o sentido que uma pessoa que sofre por conta de sua identidade queira fazer piada da identidade privilegiada, ou dos argumentos de quem tenta calar ou enrolar essa pessoa de identidade marginalizada. E é muito fácil cair em:

1) Uma rotina que discrimine contra outras pessoas marginalizadas;

2) Uma cultura de desconsiderar todo e qualquer argumento contra sua visão de mundo porque "parece problemático", sendo que é uma questão válida;

3) Uma cultura de bullying, onde há encorajamento de mandar mensagens de ódio para pessoas "ridículas" desde que sejam "problemáticas";

4) Uma rotina de negatividade, que pinta qualquer pessoa "de fora" como alguém indesejade e privilegiade.

Basicamente, não culpo ninguém por fazer piadas, mas eu tomaria cuidado com quem /só/ faz esse tipo de piada e desiste de engajar com qualquer outra coisa. Ou com quem mostra ou incentiva um ou mais dos comportamentos listados acima.
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