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Discussão\Desabafo sobre "gêneros criativos"
#2
Acho que gênero é algo pessoal; obviamente a sociedade possui grande influência no que é visto como masculino/feminino/nenhum dos dois, mas só cada pessoa consegue dizer o que seu gênero significa para si.

Existem mulheres que gostam de usar cabelo super curto, fazer musculação, e usar roupas largas. Existem homens que gostam de usar saias e maquiagem. Existem demimulheres que se consideram "quase mulheres, só que não totalmente" e usam uma aparência mais feminina e pronome ela, e existem demimulheres que admitem que seu gênero bate com a descrição, mas que tentam se distanciar de uma apresentação feminina e de serem associadas com gêneros binários o máximo que podem.

O que eu acho que acontece é: ser mulher, para certas pessoas, pode significar "gostar de coisas consideradas femininas", e, para outras, pode significar "se sentir irmã de outras mulheres e lutar pelos direitos das mulheres". Essas duas pessoas podem se considerar mulheres com base nisso, independentemente de outras características. A sociedade valoriza muito mais a primeira definição do que a segunda, e a maioria das pessoas provavelmente vai descrever uma mulher nesses termos, se não descrever em relação a um corpo de uma mulher perisexo e cis que não sofreu nenhum tipo de malformação, doença, ou acidente.

A minha medida para perceber os gêneros diferentes em mim é:

- o quanto estou confortável com roupas femininas demais, "andrógenas" demais ou masculinas demais;
- o quanto eu sinto que meu gênero é diferente das pessoas que estão à minha volta;
- o quanto eu sem querer me chamo de homem/mulher/ele/ela/etc. na minha mente;
- disforia (eu tenho surpresa ao perceber que minha genitália é o que é?);
- eu olho no espelho e penso em como estou me vendo naquele dia (obviamente eu sei que a maioria vai me ver como mulher, não importa como eu esteja).

Eu não considero que nenhum dos meus gêneros seja exatamente homem ou mulher, mas às vezes me sinto mais próxime de um destes gêneros ou de outro.

E eu não considero qualquer uma destas coisas uma experiência universal: se um homem trans só consegue se ver no espelho como mulher, se uma pessoa agênero se sente confortável com roupas extremamente femininas, se uma pessoa gênero-fluido cujos gêneros incluem gêneros binários ou próximos destes sempre se chama com o mesmo pronome na cabeça, ou se uma mulher trans não se sente estranha ou desconfortável com a genitália que nasceu, eu ainda acho que suas experiências são 100% válidas.

É muito complicado descrever gênero como algo além do "é o que eu sinto que está certo" sem cair em estereótipos de corpo/comportamento/roupas/etc., então realmente, não tem como ter provas de que alguém realmente muda seu gênero ouvindo músicas diferentes ou junto com as estações do ano, ou que aquilo não são só emoções. Mas, como eu já falei uma vez no Instagram, a maior prova de que uma pessoa é de uma identidade pouco aceita é que ela insiste nela independentemente do quanto as pessoas em volta acham absurdo. *shrug*

(Não que pessoas que acabem desistindo não sejam válidas também, mas é que aí não tem como saber se a pessoa realmente pensou melhor, ou se só está se reprimindo para ser mais aceita.)

Sobre o termo: Esses gêneros que você citou são subtipos de gênero-fluido, mas talvez também possam ser citados como xenogêneros. Xenogêneros são gêneros que só podem ser descritos com conceitos normalmente não associados a gêneros.

Eu não vejo tanto sentido em descrever estes gêneros que você falou, ou fisgênero (minha identidade) como xenogêneros, porque... sei lá, pra mim coisas como o gênero mudando de acordo com a situação fazem tanto sentido quanto o gênero mudando com flutuações hormonais, enquanto gêneros como "o gênero de uma estrela", "um gênero frágil" ou "um gênero que brilha" são bem mais difíceis de entender, imho. Mas acho que são considerados xenogêneros também sim.

EDIT: Também acho importante dizer que essa retórica de "a pessoa só tem que ser o que ela é e pronto" é bem... nociva, na falta de uma palavra mais gentil. Se eu simplesmente "for o que sou" e ~não ligar para rótulos~, as pessoas vão insistir em utilizar pronomes e outras formas de linguagem que me fazem sentir extremamente mal, sem ter ninguém que vai sequer pensar em tentar me chamar por uma forma neutra se eu não insistir nos tais "rótulos limitadores". Vou ter pessoas insistindo em me categorizar como algo que não sou, porque vou estar abdicando do vocabulário para descrever o que sou, e, para a sociedade, o "neutro", o "ser o que você é", não é evitar se referir a alguém com termos que denotam gênero, é tratar a pessoa como uma pessoa cis.

(Sry se sua intenção não foi bem essa, mas já tive pessoas demais usando esse argumento contra mim pra deixar passar.)
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Discussão\Desabafo sobre "gêneros criativos" - por Aster - 26-08-2016, 02:36 PM

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