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Imagens coloridas indicando que ofensas "menores" ainda são cis/heterossexistas
#1
Estas imagens foram feitas para ser divulgadas e repostadas, especialmente quando você não está a fim de escrever isso novamente. Prefiro que me deem crédito (Aster Sant'Anna, acompanhado ou não de orientando.org, ou link para o tópico), mas entendo que em certas situações isso pode ser difícil. Mesmo assim, em lugares como Facebook, Instagram e Tumblr, é perfeitamente possível copiar e colar um link pra cá na descrição, ou citar meu nome.

Para quem não consegue ver, todas essas imagens possuem fundos de cores claras em degradê, cada um diferente do outro. Em todas as imagens, a fonte é sem serifa (Noto Sans) e cinza. A legenda do que está em cada imagem vai ser colocada após cada imagem.

[Imagem: pos1.png]
"duvidar da existência de pessoas cuja atração é fluida" / "ainda contribui com heteronormatividade"

Por quê? Heteronormatividade prega que hétero é a orientação natural, padrão, normal, válida. Uma das características da orientação hétero é que ela não é fluida, ou seja, permanece sempre a mesma. Portanto, dizer que orientações não podem ser fluidas diz que esse aspecto da orientação hétero precisa ser universal.

[Imagem: pos2.png]
"duvidar da existência de pessoas cuja atração por certos gêneros é mais frequente do que por outros" / "ainda faz parte da heteronormatividade"

Por quê? Heteronormatividade prega que hétero é a orientação natural, padrão, normal, válida. Uma das características da orientação hétero é que ela sempre tem a mesma intensidade, e outra característica é que o padrão é sempre ter atração por um gênero só. Portanto, dizer que alguém não pode realmente sentir atração por mais de um gênero, ou que pode sentir desde que seja com a mesma intensidade, é usar a orientação hétero como base de como uma orientação pode ou não pode funcionar.

[Imagem: pos3.png]
"duvidar da existência de pessoas capazes de sentir atração por pessoas não-binárias sem considerá-las "basicamente homens" ou "basicamente mulheres" para propósitos de atração" / "é apoiar cissexismo e heterossexismo"

Por quê? Cissexismo diz que só existem dois gêneros válidos, homem e mulher, e que esses gêneros são decididos pelo corpo com o qual a pessoa nasceu, que presumidamente vai se desenvolver de certa forma. Heterossexismo diz que as únicas atrações válidas são por mulheres (se você é homem) ou por homens (se você é mulher).

Dizer que identidades não-binárias não podem "participar" de dinâmicas de atração é dizer que essas identidades não são reais em todos os pontos, e que se uma identidade não está prevista dentro da orientação hétero, ela não pode ser inclusa em outras orientações.

[Imagem: pos4.png]
"só apoiar pessoas não-binárias que definem suas identidades com termos "comuns" ou "fáceis de entender"" / "é apoiar cissexismo e heterossexismo"

Por quê? Novamente, pessoas não-binárias não são inclusas na dinâmica hétero. Porém, nem todas as pessoas não-binárias se sentem confortáveis com gay ou com lésbica, ou com serem inclusas na atração de quem se identifica como tal. É daí que vem orientações ~novas e estranhas~, como viramórique, feminamórique, urânique e netúnique. Ou até mesmo como polissexual e cetero. Dizer que essas experiências são inválidas porque não possuem base em ser uma pessoa binária atraída por pessoas binárias é dizer que deveriam estar num padrão mais próximo ao hétero, e até mesmo ao padrão cis de só existirem gêneros binários.

Quanto a gêneros, queremos poder descrever nossas experiências em detalhes, tanto para outras pessoas aprenderem que experiências de gêneros são diversas, quanto para podermos nos comparar ou contrastar entre outras pessoas não-binárias. Querer que a gente cale a boca e só usemos rótulos quando forem simples é querer que nossos gêneros fiquem mais próximos à norma cis do que é gênero, ou só sejam descritos como tal.

Definições das orientações às quais me referi mais cedo:

Viramórique: Uma pessoa não-binária atraída somente por homens.

Feminamórique: Uma pessoa não-binária atraída somente por mulheres.

Urânique: Uma pessoa atraída por homens, pessoas sem gênero, e outras pessoas não-binárias desde que elas não tenham conexão com feminilidade ou com o gênero mulher.

Netúnique: Uma pessoa atraída por mulheres, pessoas sem gênero, e outras pessoas não-binárias desde que elas não tenham conexão com masculinidade ou com o gênero homem.

Poli-: Uma pessoa atraída por vários gêneros, geralmente mais de dois, não necessariamente todos.

Cetero-: Uma pessoa atraída somente por pessoas não-binárias. Geralmente, esta orientação é vista como exclusiva para pessoas não-binárias.

[Imagem: pos5.png]
"reclamar da liberdade de escolher entre vários pronomes e finais de palavra, além de ele/o e de ela/a" / "faz parte de apoiar cisnormatividade"

Por quê? O/ele/o e a/ela/a são conjuntos geralmente associados aos gêneros homem e mulher, respectivamente. Nem todas as pessoas que os usam são homens ou mulheres, mas ainda assim: esses conjuntos, os únicos vistos como válidos dentro da língua, são associados aos únicos gêneros vistos como válidos.

Embora pessoas não-binárias geralmente não queiram associar linguagem a gênero, e defendem que pessoas podem usar qualquer linguagem independentemente de seus gêneros, muitas vezes tentam nos empurrar a ideia de que devíamos "simplesmente" concordar em um conjunto só, para ser tanto usado de forma neutra (quando há pessoas de mais de uma linguagem envolvidas, ou quando você não sabe a linguagem de alguém), quanto para todas as pessoas não-binárias que não querem usar o/ele/o ou a/ela/a.

Ou seja, nós, que temos uma pluralidade imensa de identidades e de experiências de gêneros, temos que nos contentar com um conjunto de linguagem, que não seria nem exclusivo para se referir a pessoas como nós, enquanto pessoas binárias podem ter conjuntos diferenciados entre si. Tudo isso porque acham que modificar o uso da língua para que possa existir uma gama maior de pronomes, artigos e finais de palavra é trabalho demais, ainda que a diferenciação entre conjuntos original tenha sido obra de pessoas binárias.

A ideia de restringir o que pessoas não-binárias podem ou devem ter de conjuntos é definitivamente cisnormativa. Afinal, não afeta pessoas cis.

[Imagem: pos6.png]
"reclamar de pessoas usando palavras mais específicas para descrever suas experiências, justificando que elas "dividem o grupo"" / "só mostra que você é incapaz de aceitar pessoas diferentes de você, e incapaz de aceitar que outres também sofrem sob o mesmo sistema"

Por quê? Por exemplo, se uma pessoa prefere o termo pan ao termo bi, porque sente atração independentemente do gênero e quer colocar ênfase nisso, isso não significa que nega que alguém com a mesma experiência poderia se identificar como bi. Só significa que achou outro termo mais confortável para si.

Agora, se o grupo bi local nega que há qualquer necessidade de termos para pessoas multi além de bi, diz que se identificar como poli ou como pan é frescura ou anti-bi, e insiste que é necessária uma unidade bi, a pessoa pan tem todo o direito de não se sentir confortável com essa retórica e deixar o grupo. E isso não é culpa da pessoa que escolheu um termo diferente, e sim do grupo que criou ideias sobre o que a rejeição do seu termo significa, e que criou a ideia de que pessoas de termos diferentes são inimigas.

É isso o que acontece com várias identidades mais específicas. Elas não são um ataque ou uma negação ao termo mais geral, mas se a comunidade mais geral só se importa com quem se identifica exatamente da maneira que querem, ao invés de tentar incluir e deixar pessoas de identidades similares, mas diferentes, confortáveis, as pessoas de identidades que estão sendo atacadas ou ignoradas vão deixar o grupo, e possivelmente guardar rancor também.

[Imagem: pos7.png]
"agir como se "todas e todos" incluísse todas as pessoas" / "contribui com a cisnormatividade"

Por quê? Nem todas as pessoas não-binárias usam a ou o como finais de palavra. "Todas e todos" dialoga com todas (ou pelo menos com quase todas) as pessoas cis, enquanto ignora muitas pessoas não-binárias; ou seja, uma parcela que só tem pessoas que não são cis.

[Imagem: pos8.png]
"agir como se existisse uma orientação "base" ou "padrão", ainda que não seja hétero" / "ainda contribui com a heteronormatividade"

Por quê? A heteronormatividade é que impõe que existe uma orientação que todas as pessoas são, até que "viram" algo diferente. Trocar a ideia de que todo mundo é hétero até que prove o contrário, ou até que a pessoa seja influenciada por outra coisa, pela ideia de que todo mundo é bi, pan, assexual, ou de outra identidade, até que aconteça algo, perpetua uma ideia similar, especialmente a quem não é da "orientação padrão" escolhida.

[Imagem: pos9.png]
"usar "sexo biológico" ao invés de gênero designado ou atribuído quando se trata do que foi colocado na certidão de nascimento" / "contribui com a cisnormatividade"

Por quê? A ideia de que certos corpos precisam ser denominados como fêmeas/mulheres/meninas/femininos ou de que certos outros corpos precisam ser denominados como machos/homens/meninos/masculinos, quando utilizamos essas mesmas palavras para descrever gêneros (ou papéis de gênero, ou expressões de gênero, ou elementos de gênero, etc.), perpetua a ideia de que é o corpo que define gênero, até que seja provado o contrário. Esta é uma ideia cisnormativa.


[Imagem: pos10.png]
"negar que pessoas possam ter suas identidades afetadas por fatores como trauma, neurodivergência, cultura ou intersexualidade" / "é negação da natureza da construção da identidade, e contribui com hetero/cisnormatividade"

Por quê? Novamente, a ideia que a hetero/cisnormatividade perpetua é que você nasce de certo corpo, tem um gênero baseado nesse corpo, e sente atração somente pelo gênero baseado no outro corpo. Isso ignora que fatores da vivência da pessoa podem afetar muito mais a construção do gênero, ou até da orientação, do que "nascer assim".

Não é como se a maioria das pessoas pudesse ter suas identidades facilmente moldadas, e não é como se todas as pessoas intersexo, neurodivergentes, etc. etc. não sejam de seu gênero designado e tenham seu gênero afetado por isso, mas é algo que pode acontecer. E dizer que essas pessoas precisam de "cura" para que suas identidades sejam "normais" e "puras" não apenas não é realista, como também contribui com o ideal cis/hétero de que você precisa nascer com sua identidade, e de que só certas experiências são válidas.

Se você quer fazer ou faz tratamento para poder lidar melhor com neurodivergência, trauma, disforia ou até mesmo com opressão por si só, não há nenhum problema! E há a possibilidade de que sua identidade possa mudar quando você conseguir ter outra perspectiva de vida. Porém, também há a possibilidade de que sua identidade não mude. Essas coisas são complicadas, não se force a tentar ter alguma identidade que não parece encaixar porque ela seria "melhor" para você.



Por enquanto, é isso aí.

Eu tentei utilizar uma linguagem menos específica, não só pelo espaço, mas também pelo impacto. Coisas que só afetam pessoas não-binárias poderiam ser colocadas como exorsexismo, mas eu sei que a maioria não sabe ou não liga para exorsexismo por si só, enquanto ignorar cissexismo/cisnormatividade já é uma ofensa mais grave em círculos ativistas.

Mesma coisa para orientações: muita gente olha torto para a palavra monossexismo, mas também ignora que não são só pessoas gays e lésbicas que sofrem com heterossexismo/heteronormatividade. E que não ser hétero pode envolver muito mais do que ter atração pelo mesmo gênero.

Provavelmente vou fazer mais depois, e aceito sugestões também.
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Imagens coloridas indicando que ofensas "menores" ainda são cis/heterossexistas - por Aster - 24-01-2018, 11:04 AM

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