04-12-2017, 03:32 PM
Citação:No Brasil, a comunidade bissexual tenta chamar de monodissidentes e dissidências sexuais como nomenclaturas inclusivas de afetividades fluídas, bi, pan, variorientações etc. Mas eu zelo pela etimologia das palavras, monodissidência seria o mesmo que não-monoafetive, e particularmente a-spec pode ser não-mono, visto que é uma não-binaridade de orientação, porém há sim um espectro cinza que pode ser monoafetividade.
Eu concordo muito com isso. Não só monodissidente lembra não-monogamia, quanto pessoas usam "monodissidentes" para falar de pessoas/orientações multi apenas, quando também acabam falando de monossexismo de forma que afeta além de pessoas multi.
Por exemplo, "você vai decidir alguma hora {entre gay/lésbica e hétero}", "todo mundo é um pouco assim e é por isso que esse é um rótulo inútil" ou "isso é só modinha, ninguém é assim de verdade" são micro-agressões que afetam tanto pessoas multi quanto pessoas a-spec, então usar monodissidente como "quem sente atração por mais de um gênero" realmente confunde. Daí não dá pra saber se estão excluindo pessoas a-spec de boa ou de má fé.
Enfim, falando do assunto do tópico em si:
O problema em qualquer "guarda-chuva" é que, a não ser que seja um termo neutro (e olhe lá), pessoas vão optar por fora dele eventualmente.
"M-spec" e "multi" são termos que nunca vi alguém reclamar porque são politicamente neutros. Foram feitos apenas para ser uma categoria. É por isso que me sinto muito mais segure usando eles do que pluraliane, um termo feito com o mesmo significado, mas também com o significado adicional de "pessoas podem usar esse termo para indicar que valorizam sua atração por mais de um gênero", o que o mata pra mim, alguém que tem preferência por gênero.
Eu não me importo que chamem multi de pluri, mas também não vejo grande motivo para fazer a substituição. Só acho que precisamos ter muito cuidado em "traduzir" coisas que nem são tão artificiais assim, porque as pessoas que vão usar esses termos muitas vezes são pessoas que vão ter mais familiaridade com as versões internacionais do que com versões adaptadas, enquanto as versões adaptadas não vão ser particularmente populares. Tão pouco populares que é provável que hajam outras pessoas utilizando o termo original por não saberem do adaptado.
Exemplo prático: Eu uso gray e fray em listas de orientações ainda que estes prefixos não estejam aportuguesados, porque em outros sites em português é fácil achar pessoas usando gray e fray sem terem a preocupação de traduzir, e esses usos são muito mais numerosos e populares do que qualquer campanha para usarem termos alternativos pudesse ser. Se eu não fizer nenhuma menção aos termos originais, não só pessoas vão ficar confusas sobre de onde tirei os termos, como também não vão conseguir achar material em outros lugares sobre os termos que estou usando, caso seus primeiros contatos tenham sido através dos meus materiais.
Agora, se quiser tentar popularizar pluri, ao ponto de haver gente sabendo de pluri sem saberem de multi? Vá em frente, que eu coloco como alternativa no site.
Citação:Existem pessoas de orientações flexíveis como heteroflex, homoflex, ceteroflex, biflex, triflex, etc. que não se consideram multi ou não-mono. Existe uma não-binaridade pra isso? Que englobe?
Orientações do sufixo -flexível geralmente são utilizadas de modo que a pessoa tem atração frequente por um gênero, enquanto é infrequente/rara/aberta sem a certeza de existir atração em relação a outro(s) gênero(s). Por conta disso, uma pessoa biflexível ou triflexível não teria porque ter dúvidas de sua participação na comunidade. Cetero também é geralmente considerada uma identidade multi, porque é mais provável que a pessoa sinta atração por vários gêneros não-binários do que só um.
De qualquer forma, pessoas virflexíveis, heteroflexíveis, neuflexíveis, etc. são bem-vindas em espaços multi, ao menos em teoria. É possível que essas pessoas não se sintam seguras por terem medo que sua atração seja na realidade por só um gênero, e é possível que as pessoas do espaço multi duvidem das orientações de alguém que é "basicamente mono". Agora, qualquer termo que substitua multi pode eventualmente cair no mesmo problema. Inclusão precisa ser construída em qualquer comunidade, e um nome sozinho não tem como resolver.
A orientação quoi é considerada a-spec: a pessoa não define a orientação porque não entende aquele tipo de atração (possivelmente confundindo com outro, mas não necessariamente). Mas entendo como também pode ser definida dentro de um conjunto de identidades indefinidas.
Teoricamente, as orientações indefinidas poderiam estar descritas como no espectro pomo, já que pomo é justamente "não-hétero, só que a pessoa não sabe ou não quer definir sua orientação/atração além disso", por mais que pessoas descrevam ser pomo de diferentes formas. Se você acha isso ruim, daria para fazer um termo neutro para isso. Eu descreveria como orientações indefinidas, assim como tem certas orientações que digo que são orientações fluidas (abro, duo, a-fluxo, a-fluide, bifluxo, etc).
Ou você quer um termo para tudo que não é hétero ou gay/lésbica? Ou para todos os termos que não podem ser descritos como atração por certo gênero, ou talvez por certa categoria de gênero?