16-07-2017, 10:44 PM
3004 escreveu:Acho que destruímos as identidades de gênero já...
Esse post tem muito o que ser discutido, então vamos lá, por partes.
Primeiramente, não. Não destruímos identidades de gênero, muito menos "destruímos" gêneros. A sociedade ainda continua utilizando "homem" e "mulher" como únicas identidades válidas, independente de quantas identidades de gênero forem criadas, não importa se existir apenas 1 identidade não-binária, ou infinitas identidades que a sociedade não vai de repente começar a aceitar identidades não-binárias. E sinceramente, duvido que a sociedade vá mudar a ponto de não existir mais o sistema binário de gênero em um futuro próximo, no mínimo temos aí mais alguns milhares de anos até ter alguma possibilidade da sociedade mudar seus conceitos de gênero em geral, o que deixa o argumento sobre a "abolição de gênero" quase irrelevante na atualidade.
3004 escreveu:Não existe mais fórmula pra ser nada, estas identidades de gênero são só nomes pra caixas onde nos colocamos (eu queria saber pq a gente faz isto, mas parece que a resposta é tão subjetiva e pessoal que parece que ela é vaga, parece que tem que sempre existir um "nós" e um "eles outros"), nos colocamos nestas caixas por razões pessoais e tb pq identidade de gênero existe... aliás, quando não encaixamos em nenhuma das caixas já existentes, o cistema nos dá 2 opções , entrar pra caixa das pessoas que não tem caixa (agêneros ) , o q é uma ironia, ou criamos uma nova caixa (maveriques ).
Primeiramente, agênero não significa "falta de caixinha" ou "falta de rótulo". Primeiro você tem que entender o que é um gênero antes de entender agênero, já que agênero não é propriamente um gênero, mas sim uma identidade (uma posição) de gênero, é onde a pessoa se situa no espectro de gênero. Ser não-binário é também uma questão de inabilidade de existir confortavelmente ou autenticamente dentro do binário cultural de gênero, que muitas vezes, mas não sempre, pode envolver disforias, desconfortos e sofrimentos quando os papéis binários de gênero são impostas.
3004 escreveu:É muito triste perceber que a existencia deste cistema de identidades de gênero no começo foi justificada por ter sido uma criação sexista, misogina, homofóbica e transfobica pra separar seres humanos em caixas por causa de suas genitais e força los a se comportarem e terem papéis específicos atribuídos a cada caixa e formando uma hierarquia. Este cistema era uma e ainda é uma hierarquia onde certos grupos com certos comportamentos dentro destas caixas são mais privilegiadas do que outros.
Depois de libertarmos as caixas dos estereótipos, papéis de gêneros, genitais e expressões de gênero, p q elas ainda existem ? Sem fórmulas pra justificar identidades de gênero, qualquer um pode ser qualquer coisa dentro deSta hierarquia então. Se vc ser homem por causa dos privilégios deles, vc pode se identificar assim.
Ninguém está realmente livre dos estereótipos e dos papéis de gênero da sociedade, é impossível se isolar totalmente da sociedade a ponto de que gêneros se tornem irrelevantes. Simplesmente é impossível. Segundo, a necessidade de se criar rótulos são vários, que vai desde a necessidade taxológica e epistemológica humana, de classificar como a pessoa vivencia o seu gênero (ou falta dele), a necessidade de entender a sua identidade num contexto de gênero global, comparando com outras identidades de gênero existentes, como também existe a necessidade de compartilhar e comparar experiências com outras pessoas que tenham experiências semelhantes. Pedir para uma pessoa largar seu rótulo ou para a pessoa se identificar de outra maneira acaba virando uma forma de negação do direito de auto-identificação e também acaba virando um pedido para que as pessoas descartem seu rótulo que serve para o auto-entendimento, para encontrar pessoas com experiências semelhantes e para coletivamente ser usado para pedir reconhecimento e direitos. Pedir para uma pessoa parar de usar rótulos é efetivamente dizer para a pessoa "calar a boca e desaparecer".
Eu acho importante notar que esses tipos de pedidos são frequentemente feitos para pessoas trans e não-binárias em geral. Raramente (ou nunca) é feito para uma pessoa cis utilizando seus rótulos de gêneros. Você não vê muitos pedidos para que pessoas cis deixem de rotular as pessoas como "homens" ou "mulheres", ou pedidos para abolir identificadores de gêneros em formulários ou em certidões de nascimento.
3004 escreveu:Eu não entendo esta [palavra estigmatizada capacitista]... eu acho que esta hierarquia, este cistema e estas caixas com grupos privilegiados não deveriam existir mais... mas mesmo assim. .. Se elas não existissem, pessoas ainda seriam descriminadas por existirem, por gostarem de tal, por se comportarem tal... Este mundo está perdido.
Acho que pra ter alguma identidade de gênero, na atualidade, é só querer pertencer a algum lugar ou gostar de usar algum rótulo.
Como expliquei acima, a hierarquia binária de gênero vai acabar continuando a existir na sociedade independente dos rótulos não-binários, isso por tempo indeterminado. Então não há muito o que discutir aqui nesse caso.
Já identidade de gênero, também como expliquei acima, é muito mais do que "querer um rótulo", já que o rótulo é apenas um fruto da existência, uma epistemologia, e não é a causa do gênero (ou da ausência dele). E também como expliquei, a necessidade é muito mais complexa do que simplesmente "querer ter um rótulo diferente".
3004 escreveu:Já tentaram explicar a identidade de gênero de vcs sem usar estereótipos, papéis de gênero, comportamentos , expressões de gênero , corpo, biologia, religião ou crença ? A única conclusão que eu cheguei foi a do parágrafo acima , a mesma coisa aconteceu com a minha mãe.
Eu realmente me pergunto por que pessoas se identificam com mulheres ou não-binaries se estes gêneros são tão oprimidos.
A definição de gênero inclui a definição de papeis de gêneros, dentro de um contexto cultural. Então é óbvio que não tem como explicar gênero, ou identidade de gênero sem esses conceitos.
As pessoas podem se identificar como mulheres ou como pessoas não-binárias pelo motivo que citei acima. Simplesmente, para algumas pessoas é impossível (ou até danoso à saúde mental), viver dentro da imposição cultural de certos papéis de gêneros binários, existem pessoas que não se sentem bem, ou que não conseguem viver de forma honesta ou autêntica sendo homens, que tem toda a bagagem social e biológica, papéis que são impostos pela sociedade. Não é uma questão de viver com uma identidade que sofre menos opressão pela sociedade, já que a sociedade não vai começar a te tratar melhor se você começa a se identificar como homem, sem contar que mulheres trans não são assassinadas diariamente porque simplesmente querem um rótulo diferente.