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REGs [aviso de conteúdo: cissexismo, monossexismo, e por aí vai]
#1
Especialmente em comunidades lusófonas, onde não é tão comum haver interseccionalidade e consciência sobre identidades mais incomuns, me preocupo com a renovação de uma onda REG em espaços LGBTQIAP+. Neste tópico, pretendo divulgar e discutir sobre argumentos e táticas, para que REGs possam ser combatides e isolades.

1. Objetivos

REGs querem associar certos grupos a grupos de fora da comunidade, por não serem parecidos o suficiente com o ideal que possuem da comunidade. Querem forçar um padrão de como as pessoas devem se identificar e agir se quiserem ser levadas a sério.

Isso tem muito a ver com ideais de assimilação: é mais fácil dizer o que deve ser aceito como padrão da sociedade sem quebrar muitos padrões, desta forma.

Exemplo rápido (já que entraremos em detalhes depois): um grupo de transmedicalistas exclui pessoas sem disforia e não-binárias de uma comunidade trans, dizendo que não são trans de verdade se não possuem disforia ou se não são binárias.

Assim, conseguem vender uma narrativa de que pessoas trans são só "doentinhas" e precisam de "tratamento" (terapia hormonal + cirurgias) para serem assim como pessoas cis, enquanto não desafiam a ideia de que ser cis é padrão, de que existem mais de dois gêneros, e de que gênero é mais do que partes do corpo. Isso teoricamente deixaria o processo mais fácil para "pessoas trans de verdade", mas faz com que pessoas sem disforia e não-binárias tenham que mentir para conseguir tratamento, e lutar mais por visibilidade e aceitação.

2. História

REGs existem faz muito, muito tempo.

Inicialmente, lésbicas não faziam parte da comunidade gay, e tiveram que lutar por este direito.

Posteriormente, pessoas bi foram excluídas de comunidades para gays e lésbicas, por terem a "opção" de se passarem por hétero; sugerindo assim que pessoas bi deveriam "escolher um lado", por não terem a ver com a ideia da época de dizer que gays e lésbicas mereciam aceitação porque simplesmente não podiam evitar gostar só do mesmo gênero e não do "oposto".

Ainda mais posteriormente, não queriam deixar pessoas trans entrarem na comunidade, porque são "estranhas" e não aceitam seu "sexo biológico". Porque estão "tentando ser hétero" e rejeitando sua "natureza gay". Ou, pior, são "pessoas hétero fetichistas" que se "vestem como do sexo oposto" para "fingirem ser gays".

(nvm que pessoas bi e trans já haviam sido fundamentais para o movimento há décadas)

Mais ou menos por essa época, o termo transgênero foi popularizado, para ser mais inclusivo do que transexual (desculpem, não achei links melhores). Isso porque transexual era mais para pessoas que queriam fazer transição; transgênero tinha a intenção de incluir pessoas que faziam drag/crossdressing e pessoas trans que não queriam fazer transição. Obviamente, isso devia incluir pessoas não-binárias também.

Porém, transgênero virou uma nova palavra para transexual, o que fez com que pessoas que não quisessem transição ou que não fossem homens ou mulheres precisassem de um novo termo. E foi assim que surgiu genderqueer.

Eu vou parar por aqui em relação à história, mas dá pra ver que o único motivo pelo qual temos debates sobre GLB x LGBT x LGBTQ x LGBTI x LGBTQIA/Q(U)ILTBAG x LGBTQIAP x LGBTQIAPDNO e tudo mais é porque homens gays há décadas atrás decidiram excluir mulheres sáficas do termo gay (o que deu base para outras fragmentações).

3. Alvos da onda atual

É claro que REGs podem teoricamente conspirar para manter qualquer identidade fora da comunidade, ou apoiar certa identidade enquanto excluem outras. E é claro que seus argumentos dão corda para argumentos contra qualquer identidade. Porém, a onda atual afeta diretamente e principalmente pessoas com as seguintes identidades:
  • Assexual (+ espectro)
  • Arromântica (+ espectro)
  • Multi (especialmente pessoas que não sentem atração pelo mesmo gênero do que o seu, ou com identidades que são incomuns demais)
  • Proquu/proqua, ma/woma, fin/min/nin, etc. (apenas use gay/hétero!!1)
  • Não-binária (especialmente de gêneros menos aceitáveis, ou que pareçam parecidos com o gênero designado)
  • Intersexo
  • Que dependem de trauma, neurodivergência, etc.
  • E quaisquer outras que pareçam "estranhas", "específicas demais" ou "coisa de floquinho de neve especial".
4. Mas qual a lógica disso?

Naomi explica bem nesta postagem:
Citação:táticas/retóricas exclusionárias
dizer que um grupo não é oprimido porque outro grupo possui problemas que o grupo não tem
Exemplos: "pessoas assexuais e arromânticas não vão ser mortas por andar na rua com quem amam, pois não amam ninguém", "uma pessoa não é oprimida por ter um gênero parecido com o que lhe foi designada, porque a pessoa não vai sentir necessidade de mudar seu guarda-roupa ou passar por transição"

Por que isso não é um bom argumento? Pessoas diferentes possuem necessidades diferentes.

Pessoas assexuais e arromânticas ainda são tratadas como inumanas, ainda são postas em tratamentos para curá-las (que podem envolver sexo contra sua vontade, isto é, estupro corretivo), além de sofrerem com outros aspectos de uma sociedade zedsexista e amatonormativa.

Pessoas não-binárias são não-cis por algum motivo, então ainda vão sofrer com exorsexismo e cissexismo, seja por quererem algum tratamento hormonal, seja por sentirem a necessidade de serem tratadas de forma diferente da associada a seu gênero designado.
Citação:ignorar as necessidades do grupo, apagar sua história e se recusar a reconhecer seus esforços/suas batalhas
Exemplos: "pessoas intersexo nem querem ser LGBT", "assexualidade foi inventada nos anos 2000 por pessoas hétero que querem se forçar na comunidade"

Por que isso não é um bom argumento? Não adianta nos basearmos em uma história que é constantemente varrida para debaixo do tapete, de uma comunidade que já passou por diversas nomenclaturas. Mesmo que certa identidade não fosse "originalmente queer", é importante reconhecer que pessoas de tal identidade podem estar lutando por uma causa similar, por ter problemas similares.

Pessoas intersexo nem sempre querem ser inclusas na comunidade e em espaços LGBT+, mas muitas pessoas intersexo acreditam que é fundamental que intersexo seja reconhecida como uma identidade queer/LGBT+. Isso varia de pessoa para pessoa; também existem lésbicas ou pessoas trans que não querem ser consideradas LGBT. De qualquer forma, muitas das pessoas que pregam que ser intersexo não faz de alguém LGBT não são nem intersexo, e só se aproveitam de algumas vozes para não terem que se preocupar com pessoas intersexo em sua retórica ou espaços.

Pessoas assexuais muitas vezes se identificavam como bi previamente, justamente porque a comunidade bi era feita de pessoas que não eram "nem gay, nem hétero". Pessoas já utilizavam ocasionalmente a palavra assexual antes dos anos 2000, mesmo que comunidades maiores só tivessem se estabelecido depois.
Citação:sabotar a imagem do grupo, pintando-o como invasor, como sanguessugas
Exemplos: "pessoas não-binárias vão pegar recursos financeiros/psicológicos de pessoas trans, quando estão só em uma fase e vão desistir de ser trans depois", "homens bi que não são atraídos por homens vão só ficar dando em cima de mulheres e de pessoas AFAB"

Por que isso não é um bom argumento? As pessoas sabem que a comunidade LGBTQIAP+ não é ~cool~. Pessoas que sentem nojinho de quem é gay, lésbica, trans, etc. não vão querer compartilhar nossos espaços. Pessoas que precisam dos recursos muito provavelmente são pessoas que não são realmente cis, hétero e perisexo. Grupos "novos" vem de divisões dentro da comunidade, não de skinheads que decidiram que agora são marginalizados.

Organizações geralmente se beneficiam em ter mais beneficiades, então não é como se um grupo novo que passasse a frequentar o lugar fosse piorá-lo ao invés de melhorá-lo. E qualquer espaço LGBTQIAP+ precisa trabalhar mais questões como racismo, capacitismo, misoginia, cissexismo e exorsexismo; não é chutando pra fora pessoas de certa identidade que a situação vai subitamente melhorar, e sim com esforços de educação.

Com disforia ou sem disforia, sendo binárie ou não-binárie, qualquer pessoa pode desistir do tratamento por vários motivos. E pessoas cis não possuem nenhum incentivo para dizerem que são trans e/ou não-binárias, independentemente do que dizem por aí. A pessoa vai ser repetidamente questionada, ridicularizada e excluída; não vale a pena tudo isso porque gosta da estética de ser uma pessoa gênero-estrela, ou porque acha que ser "de outro gênero" vai ser melhor do que ser gay/lésbica, ou porque quer escapar de seus papéis de gênero.

Quanto a igualar pessoas AFAB ou AMAB, é a pessoa que está fazendo o argumento que está sendo cissexista, achando que mesma genitália = basicamente mesmo gênero. É muito suspeito também o argumento de que "homens estão invadindo nosso espaço", porque é o que dizem também de mulheres trans lésbicas.

A maioria das pessoas multi que não possui atração pelo mesmo gênero está apenas respeitando o gênero de pessoas por quem já se atraiu (sendo que a atração continuou depois de saber que tais pessoas não são do gênero que achava que eram). Também aposto que existem muito mais homens que se consideram bi porque acham que mulheres cis e trans são de gêneros diferentes do que homens que se consideram bi porque já sentiram atração por mulheres e pessoas agênero.

E, pasmem, mas pessoas que não são hétero/cis, mas que não passam muitas dificuldades por isso, tendem a não frequentar espaços LGBT+, ou até mesmo se identificarem publicamente como não-cis/hétero! Porque não apenas não sentem necessidade de apoio, como também se sentem como invasories!
Citação:categorizar erroneamente o grupo como opressor
Exemplos: "pessoas bi são opressoras porque sentem atração hétero", "pessoas assexuais/arromânticas são opressoras porque não sentem atração pelo mesmo gênero"

Por que isso não é um bom argumento? Se o grupo não é reconhecido como "normal", "natural", "aceitável" pela sociedade, este grupo não é privilegiado.

Mesmo que uma pessoa pense que seria melhor se seu filho gay fosse bi e se casasse com uma mulher, essa pessoa está só colocando fé em que a atração por outros gêneros se torne irrelevante e fácil de esquecer.

A sociedade sempre quer que pessoas queer cedam "mais um pouquinho": ao invés de ser uma pessoa poligênero, que tal ser bigênero, já que "só existem dois gêneros"? Ao invés de ser bigênero, que tal aceitar que é só sua expressão de gênero que é diferente, e que você é cis? Ao invés de se expressar de forma tão diferente, que tal largar essa fase e virar ume adulte normal?

E, vale lembrar que, especialmente em lugares onde existe mais conhecimento sobre pessoas gays ou lésbicas do que sobre outras identidades, pessoas dessas outras identidades tendem a sofrer mais. Uma pessoa bi não vai sofrer apenas por ter atração pelo mesmo gênero (se tiver), mas também por "não escolher um lado", por "insistir numa identidade promíscua e infiel", por "estar passando por uma fase". Uma pessoa assexual ou arromântica vai sofrer porque "sexo/romance é o que faz de nós seres vivos", porque "isso é só uma fase", porque "você está mentindo, aposto que é gay", porque "então porque não faz o teste e faz sexo comigo pra eu te consertar?"

Isso não significa que gays/lésbicas são opressories, mas sim que podem ter certas vantagens sobre pessoas de identidades menos conhecidas, dependendo das circunstâncias.
Citação:descrever identidades como arbitrárias e irrelevantes às classes sociais
Exemplos: "as pessoas não vem uma pessoa neurogênero, só veem uma pessoa cis", "ser bi ou pan é inútil, as pessoas só vão ver uma pessoa gay ou hétero"

Por que isso não é um bom argumento? Vivemos em uma sociedade pericisheteronormativa. A não ser que tenhamos sinais muito grandes de sermos algo fora desses padrões, seremos vistes como perisexo, cis e hétero, independentemente da identidade.

Identidades são feitas para descrever nossas experiências. Nossas identidades existem independentemente de qualquer opressão ser colocada a elas ou não, e a maioria delas é excluída pelo mesmo motivo: por questionar gênero.

Uma pessoa binária intersexo e/ou trans faz com que pessoas questionem o que faz de alguém ser uma mulher ou um homem, já que não tem a ver com biologia. Uma pessoa não-binária questiona a existência da falsa dicotomia entre mulher e homem, e não apenas mostra que é possível ser algo diferente, mas também que algumas pessoas sentem a necessidade de se identificarem como algo diferente. Uma pessoa que não está (somente) com alguém do "gênero oposto" questiona o que é gênero, já que ele não define a preferência sexual/romântica/etc. de alguém.

Adicionalmente, pessoas multi questionam a ideia de "escolher um gênero" para se relacionar, enquanto pessoas arromânticas e/ou assexuais questionam o modelo de atração zednormativo e periorientado como uma experiência universal, e também a possibilidade de relacionamentos íntimos não serem necessariamente compostos por sexo e/ou romance.

Com exceção das pessoas que conseguem separar e achar que alguma(s) identidade(s) LGBTQIAP+ pode(m) ser simplesmente "doença(s)", ou algo natural, e outras não, é comum que considere toda a comunidade "farinha do mesmo saco".

Isso não é motivo para não termos o direito de entender a relação entre as múltiplas identidades existentes. Isso não é motivo para não termos o direito de termos nossas próprias identidades, sob nossos próprios termos. Isso não é motivo para invalidar identidades alheias.
Citação:dizer que o grupo está apropriando a luta/as dificuldades de um grupo similar, ou da comunidade à qual querem se juntar
Exemplos: "pessoas não-binárias só estão se aproveitando de que pessoas trans são mais mainstream agora", "pessoas assexuais estão se apropriando de termos como terapia de conversão e estupro corretivo para descrever suas fantasias de opressão"

Por que isso não é um bom argumento? Primeiramente, esse tipo de argumento geralmente se baseia na comunidade estar vindo de fora (o que já estabelecemos que não é verdade). E então, temos o fato de certos tipos de opressão serem similares (ou iguais), o que não é "apropriação", porque é algo que está sendo forçado em certos grupos.

Terapia de conversão é um termo para qualquer terapia que tente mudar a orientação ou gênero de alguém. Estupro corretivo é um termo para qualquer tipo de estupro aonde querem que a pessoa se conforme mais à sociedade cisheteronormativa, "virando" cis, hétero, o que for.

A visibilidade de pessoas trans (e genderqueer/não-binárias, até certo ponto) faz com que mais pessoas possam saber que podem ser trans/não-binárias. Também faz com que mais pessoas se sintam seguras para dizerem que são trans/não-binárias.
Citação:dizer que esse grupo não é real, que são só opressories tentando se identificar como alguém fora do grupo privilegiado
Exemplos: "homens não-binários AMAB só querem evitar serem chamados de machistas/transfóbicos", "homens cis, arromânticos e heterossexuais só querem ser LGBT para justificar foder e não ligar no próximo dia"

Por que isso não é um bom argumento? Porque as pessoas deveriam parar de só considerar que uma pessoa pode estar errada se a pessoa está fora de um grupo oprimido, sinceramente. *suspiro*

Uma pessoa não-binária está falando merda cissexista/exorsexista/misógina/transmisógina? Fale. De que adianta um espaço supostamente livre de opressão se as pessoas dentro dele também perpetuam opressão? Não é como se fosse só se descobrir trans/NB para acabar com qualquer preconceito em relação a gênero e sexo que existe na mente da pessoa.

Alguém está magoando outra(s) pessoa(s), por mentir ou dar falsas expectativas? A identidade não deveria servir de escudo, e nem como uma arma contra as outras pessoas que não tem culpa de existir alguém da comunidade delas que se comporta de forma inadequada.
Citação:literalmente pintar o grupo oprimido como pior do que o que é realmente opressor
Exemplos: "pessoas assexuais são piores do que pessoas hétero, porque pintam sexo como nojento", "pessoas não-binárias prejudicam o movimento trans muito mais do que qualquer pessoa cis"

Por que isso não é um bom argumento? Porque o grupo oprimido não tem poder pra fazer nada, e não é a causa dos problemas. Também não foi tal grupo que criou o sistema sob o qual elas próprias são oprimidas.

Fora que a maioria dos argumentos desse tipo são generalizações ou mentiras.
Citação:ter padrões maiores para o grupo para dizer que ele é muito preconceituoso ou violento para ser aceito na comunidade
Exemplos: "uma pessoa não-binária tirou sarro da disforia de um homem trans uma vez, é isso que vai acontecer se deixarem participar de grupos trans", "uma pessoa bi disse que não há provas que a Pearl é lésbica e não bi, o que significa que não pode aguentar a possibilidade de lésbicas existirem"

Por que isso não é um bom argumento? Novamente, a maioria dos argumentos são generalizações ou mentiras. Ou são comentários inocentes reinterpretados para que sejam horríveis.

E, novamente, as pessoas deveriam parar de só considerar que uma pessoa pode estar errada se a pessoa está fora de um grupo oprimido. As pessoas devem ter responsabilidade por comentários discriminatórios independentemente de como se identificam.
Citação:utilizar um pequeno número de pessoas para justificar não defender seus direitos
Exemplos: "algumas pessoas assexuais acham que quem é HIV+ merece por ficar fazendo sexo por aí, isso prova o quanto somos diferentes", "uma pessoa proquassexual disse que não queria ser lésbica porque acha lésbicas feias, então essa é uma identidade homofóbica"

Por que isso não é um bom argumento? Novamente, ações independentes não devem ser responsáveis pela comunidade toda. Novamente, muitas vezes esses comentários foram distorcidos para que parecessem horríveis e representativos de toda a comunidade. Novamente, pessoas tão horríveis provavelmente nem iriam querer estar na comunidade LGBTQIAP+.
Citação:e falar sobre a identidade como se a comunidade tivesse uma mente única e fosse um movimento
Exemplos: "o movimento não-binário vive no Tumblr, odeia pessoas cis e acha que pessoas trans binárias são privilegiadas", "a comunidade assexual é super racista, porque eu já vi um neonazista se identificando como assexual"

Por que isso não é um bom argumento? Novamente, identidades são identidades, e não precisam ter um ~papel social~ para serem válidas. E, pela última vez, ações independentes não devem ser responsáveis pela comunidade toda.

Vou deixar por aqui. Talvez eu fale mais sobre táticas e argumentos mais tarde. Espero que isso tenha sido útil!
  Responder
#2
eu kinda acho que isso precisa de uma versão resumida? especialmente porque olhar pra isso fora de contexto deve ser meio estranho

basicamente:
- existem pessoas que não querem incluir parte da comunidade lgbtqiap+
- são pessoas que (geralmente) invalidam atração por gêneros nb, ou orientações que são do espectro assexual (junto com qualquer pessoa que use orientações além da sexual), sendo que qualquer orientação é simplesmente uma descrição de experiências com atração
- essas pessoas também querem considerar nb um rótulo cosmético e basicamente igualar pessoas nb a algum gênero binário
- assim como querem igualar qualquer pessoa que não concorda com isso a alguém "cishétero"
- porque acham que qualquer pessoa que não sente atração pelo mesmo gênero é hétero, e que a pessoa é "mais hétero" a cada divergência de ser gay (assim, uma pessoa arromântica bissexual é mais hétero que uma lésbica assexual, que é mais hétero que uma lésbica allo)

essa nova onda usa teoria de twerfs e truscum, mesmo que estes sejam grupos que geralmente são excluídos socialmente por serem perigosos para pessoas vulneráveis

mas são pessoas mais aceitas, por contradizerem esses grupos superficialmente

usam argumentos que parecem relativamente lógicos no início, como "pessoas cis e hétero não são LGBT+", "pessoas intersexo não querem ser LGBT" e "pessoas demissexuais não são oprimidas por serem demi"

e no fim convencem pessoas a lutar ativamente contra qualquer identidade que não seja gay, hétero, bi (com atração por gêneros binários) e lésbica

e sim, existem regs brasileires, e as comunidades lgbt+ brasileiras parecem muito susceptíveis a essa ideologia, porque já não entendem porra nenhuma de pessoas assexuais e de gêneros nb, então podemos correr mais risco do que já corremos
  Responder
#3
Valeu pelo resumo!

Yeah, eu meio que tentei me focar na história e nos argumentos, para as pessoas conseguirem identificar um padrão. O padrão é muito mais importante do que identificar coisas que podem parecer mais extremas.

Por exemplo, REGs podem não dizer com suas palavras "pessoas não-binárias não existem", mas vão dizer que é impossível uma pessoa sentir atração por pessoas de gêneros não-binários (que não sejam "próximos dos binários"), vão dizer que várias pessoas não-binárias são pessoas cis tentando escapar de seu privilégio ou pessoas trans com cissexismo internalizado, vão caçoar de orientações que incluem ou que foram feitas para pessoas não-binárias, e podem até reclamar de neopronomes ou de pessoas não-binárias que não se "alinham" com algum dos gêneros binários.

A questão é, pessoas engolem/espalham ideologia REG porque, muitas vezes, isso parece ser algo inocente. Vão fazer postagens elaboradas sobre como identidades não-binárias são inúteis porque a sociedade não as vê, ou sobre como termos como ceterossexual ou mulherromântique são ~homofóbicos~ por estarem "incentivando as pessoas a não se identificarem como gay/lésbica". E as pessoas vão passar adiante por ser uma perspectiva que nunca consideraram, especialmente quando não as afeta.

Então, yeah, toda vez que virem algo criticando "microidentidades", "neoidentidades", "identidades MOGAI", e por assim vai, eu sugiro procurar se a postagem não cai em uma das questões apontadas no OP (dizer que um grupo é privilegiado só porque existe a possibilidade de pessoas de outros grupos estarem pior, generalizar uma identidade inteira como pessoas racistas/heterossexistas/etc., e por aí vai).
  Responder
#4
Eu gostaria de apontar outro problema na ideologia REG, que tem a ver com postagens que vi hoje:

REGs são pessoas que querem parecer bem intencionadas, mas apenas para justificar suas ações discriminatórias e de bullying.

REGs zedsexistas, por exemplo, usam táticas utilizadas por TWERFs, transmeds, etc., mas dizem que ~dessa vez~ estão fazendo a coisa certa, porque odeiam/são alvos desses grupos.

"Mulheres trans e pessoas não-binárias realmente estão dentro da comunidade, mas assexuais estão se identificando como um grupo oprimido para invadir espaços e tomar recursos; e como poderiam estar validando pessoas que odeiam pessoas trans e não-binárias, se são pessoas trans/não-binárias? Você está comparando um grupo oprimido com um grupo opressor ao apontar as similaridades!"

É por isso que não é legal construir a ideia de que, desde que você seja de um grupo, você pode atacar outras pessoas dentro do grupo.

É isso o que leva REGs a ignorar pessoas abusivas dentro de sua própria comunidade, até que a lista de vítimas aumenta tanto que pessoas que apoiam esses indivíduos não são mais bem-vistas.

É isso o que leva a casos como o de uma certa pessoa, que fingiu ser uma mulher trans intersexo* de múltiplas etnias (negra, judaica e indígena, acho) quando era uma mulher cis branca, só para poder dizer que boa parte do povo judaico merecia morrer, e só para poder falar merda de mulheres trans e de pessoas intersexo sem ninguém poder dizer que estava sendo diadista, cissexista ou transmisógina.

(* No fim, não tinha como saber se ela era realmente intersexo, mas visto que mentiu sobre várias outras identidades marginalizadas, é bem possível.)

É isso o que leva pessoas neuroatípicas menores de idade a fazerem blogs para "discutir" suas políticas REG - o que inclui falar pra pessoas assexuais ou com orientações incomuns morrerem e espalhar mentiras sobre pessoas que não possuem a mesma opinião abusarem crianças ou serem nazistas - e então se defenderem de qualquer argumento dizendo que "não vão ler textos grander por serem neuroatípicas", e que são menores de idade, "como ousa alguém pegar tão pesado com menores de idade"?

(Certos casos são justificáveis, mas se você nunca está bem o suficiente para ler argumentos, ou se você não gosta de interagir com adultes, pra quê criar um blog pra argumentar com outras pessoas? Ah é, é só pra ser popular e para se sentir bem em tirar sarro de pessoas marginalizadas, enquanto se sentem bem em ~fazer a coisa certa~ por serem completamente diferente de pessoas não marginalizadas que fazem o mesmo.)
  Responder
#5
Além de suspeitar de qualquer pessoa que tente falar de pessoas "cis hétero" invadindo a comunidade, ou reclamando que existem rótulos demais, como é possível evitar que retórica REG se espalhe?

E, só por curiosidade: como descobriram que uma pessoa era na verdade uma mulher cis, e não uma mulher trans que fez transição cedo ou qualquer coisa assim?
  Responder
#6
Citação: Além de suspeitar de qualquer pessoa que tente falar de pessoas “cis hétero” invadindo a comunidade, ou reclamando que existem rótulos demais, como é possível evitar que retórica REG se espalhe?


  1. Não "deixar quieto" caso você perceba que uma pessoa próxima a você está começando a reproduzir retórica REG, mesmo a mais básica (como "atração platônica é só amizade lol, não faz parte da comunidade LGBT" ou "pessoas demi hétero não são oprimidas");
  2. Deixar claro que heterossexismo e cissexismo não são apenas "homofobia e transfobia";
  3. Não apoiar a inclusão de REGs e de outras pessoas abusivas em espaços LGBTQIAP+, caso você tenha poder para isso;
  4. Não normalizar conceitos utilizados por REGs (como "heterossexualidade compulsória" e a ideia de que identidades obscuras só servem para ser transitórias para identidades como gay ou trans binárie), mesmo que você não esteja utilizando tais conceitos para excluir alguém;
  5. Tratar zedsexismo, amatonormatividade, exorsexismo e monossexismo como questões importantes, e não como irrelevantes ou "bônus" na hora de falar porque certa pessoa é problemática;
  6. Ajudar as pessoas a verem que a diversidade relacionada a orientações, gênero e sexo (no sentido de corpo) está interligada, de modo que pessoas que hoje se categorizam como intersexo, assexuais, arromânticas, bi, gays, lésbicas, cetero, não-binárias, transgênero, etc. muitas vezes são e foram vistas como basicamente o mesmo grupo.


Citação: E, só por curiosidade: como descobriram que uma pessoa era na verdade uma mulher cis, e não uma mulher trans que fez transição cedo ou qualquer coisa assim?

oh boy

É claro que isso faz com que ela tenha sido efetivamente criada como uma mulher ipsogênero (assumindo que isso seja verdade), então ela não teve a mesma experiência de uma mulher trans.
  Responder
#7
Valeu! E wtf.
  Responder
#8
tem que cuidar lgbtpn também, a tentativa de provar que regs são inclusives

agora reclamam de pessoas que usam lgbtqia que não incluem pessoas pan e não-binárias... é uma palhaçada tbh
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#9
https://agreatdebunkingeffort.tumblr.com/

justonepurpose decidiu reunir as réplicas a diversos callouts de inclusionistas em uma mesma página. Bom ver pra ter uma ideia do que REGs tão aprontando.
  Responder
#10
Citação: justonepurpose decidiu reunir as réplicas a diversos callouts de inclusionistas em uma mesma página. Bom ver pra ter uma ideia do que REGs tão aprontando.

Pra quem não tem paciência, aqui tem alguns pontos:

Então, yeah, a campanha em geral é ridícula, e, como muites andam falando no Tumblr, largar acusações sérias à toa só faz com que pessoas realmente abusivas possam ganhar o benefício da dúvida por ninguém mais poder levar a sério acusações dessas.
  Responder


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