04-01-2017, 01:45 PM
(Esta mensagem foi modificada pela última vez em: 30-08-2019, 04:55 PM por Aster. Edited 4 times in total.)
Eu não sabia se fazia uma postagem no blog, ou uma página... mas acho que o formato de tópico é mais adequado, pelo menos em relação a poder ter atualizações constantes sem ser algo estranho.
Então. Exorsexismo. Eu sei que muita gente me estranha usando a palavra, mas, como uma pessoa não-binária branca, esta é uma palavra útil para mim.
1. Conceito
Exorsexismo é, resumidamente, o sistema opressivo que atua contra pessoas que não são 100% do gênero mulher e nem 100% do gênero homem. Isso inclui qualquer pessoa não-binária e também pessoas que não se identificam como não-binárias, mas que cabem na definição da palavra.
Exorsexismo inclui:
2. Criação e controvérsias
Antes de existir exorsexismo, era comum que as pessoas se referissem à discriminação de pessoas não-binárias em comunidades anglófonas como nonbinary erasure (apagamento não-binário). Isso porque várias instâncias de exorsexismo são simplesmente pessoas não percebendo que mulheres e homens não são as únicas pessoas que existem.
Porém, pessoas não-binárias são alvos de chacota mais aceitáveis para váries trolls, e somos inclusive alvos de chacota porque pessoas trans binárias podem nos usar para se alavancar: afinal, elas são só pessoas que nasceram no corpo errado e que precisam de cura, enquanto nós somos meninas que queremos ser especiais com termos novos e linguagem diferente.
Pessoas abertamente não-binárias também possuem mais dificuldade em conseguir hormônios e cirurgias, até porque não temos como ser muito cisnormatives quando não existe um padrão de gênero sob o qual podemos ser avaliades. Também não temos como parecer pessoas cis de nossos gêneros.
Também temos pessoas dentro da comunidade LGBT+ que querem nos reduzir a um gênero binário ou outro, para não terem que reconsiderar o que significa gay, hétero ou bi.
Enquanto muitos desses exemplos cabem em apagamento, poderia ser bom ter uma palavra mais impactante para tais coisas, não?
A palavra óbvia seria binarismo, mas, pela história dessa palavra com relação ao apagamento e discriminação contra gêneros e pessoas de gêneros fora de homem e mulher em povos de certas culturas, o argumento de apropriação se tornou uma arma para as pessoas que já não gostam muito da ideia de existir vocabulário próprio para pessoas não-binárias.
Daí vem toda aquela história de dizer que pessoas brancas só querem ser oprimidas. De que como binarismo é somente em relação a pessoas de certas culturas, pessoas brancas não-binárias não sofrem de opressão mais específica que cissexismo. O que é chato até para pessoas não-binárias que não são brancas, mas que também não sofrem de binarismo por não viverem em alguma cultura que teve gêneros atacados e apagados por não serem homem ou mulher.
Depois de múltiplas consultas com pessoas trans binárias e não-binárias, inclusive pessoas racializadas, Vees (vergess/intersex-ionality no Tumblr) fez uma postagem apontando alternativas para como chamar essa discriminação específica contra pessoas não-binárias. Mesmo com a pesquisa final mostrando polarsexismo com uma grande vantagem, exorsexismo foi a palavra que ficou, talvez pela popularidade do blog exorsexistbullshit.
Obviamente, a palavra ainda foi repetidamente atacada, tanto por "apropriar binarismo" quanto por "deixar implícito que pessoas trans binárias não são oprimidas". E, obviamente, porque pessoas não-binárias não são oprimidas de verdade, são só pessoas cis querendo ser especiais e etc. etc. etc.
Mesmo assim, existem duas vantagens óbvias da palavra, as quais são evitar o sufixo -fobia e incluir qualquer pessoa que não seja 100% homem ou 100% mulher, independentemente da pessoa se identificar como não-binária ou não.
3. Exemplos, para entender melhor, eu acho?
a) É mais fácil explicar para pessoas cis o que é um homem trans do que explicar o que é uma pessoa gênero-fofo;
b) As pessoas em geral vão levar mais a sério ume andrógine do que uma pessoa poligênero;
c) As pessoas em geral vão insistir em usar pronome ele ou ela (especialmente em relação com o gênero que a pessoa pensa ser o "gênero de verdade" da pessoa não-binária);
d) Uma pessoa gênero-fluido mulher/homem vai ser levada mais a sério do que uma pessoa fluxofluida;
e) Uma pessoa raramente vai passar como não-binária. O máximo que acontece é ter pessoas se confundindo sobre o gênero da pessoa, mas elas só vão considerar gêneros binários.
Para finalizar, vale lembrar que pessoas podem sofrer tanto por transmisoginia quanto por exorsexismo. Uma coisa não invalida a outra. E que não adianta ficar quantificando opressão, especialmente quando ela toma formas diferentes.
Então. Exorsexismo. Eu sei que muita gente me estranha usando a palavra, mas, como uma pessoa não-binária branca, esta é uma palavra útil para mim.
1. Conceito
Exorsexismo é, resumidamente, o sistema opressivo que atua contra pessoas que não são 100% do gênero mulher e nem 100% do gênero homem. Isso inclui qualquer pessoa não-binária e também pessoas que não se identificam como não-binárias, mas que cabem na definição da palavra.
Exorsexismo inclui:
- A crença de que só existem dois gêneros;
- A crença de que só existem dois tipos de linguagem ("masculina" [o/ele/o] e "feminina" [a/ela/a]), de que não existe necessidade para linguagem neutra e de que neolinguagem é bobagem que não deveria existir;
- A crença de que todos os gêneros não-binários devem ter base em gêneros binários;
- A crença de que todos os gêneros não-binários baseados em gêneros binários são "basicamente binários";
- A crença de que ser não-binárie é uma escolha superficial, uma modinha, um "modificador", algo que é sempre irrelevante, porque a pessoa é "na verdade" homem ou mulher;
- A crença de que gêneros só são válidos quando existem pessoas cis de tal gênero em nossa sociedade;
- A crença de que gêneros definidos por trauma, neurodivergência, intersexualidade, ou outras experiências são inválidos;
- A crença de que é certo tratar homem e mulher como gêneros opostos;
- A crença de que é certo separar coisas ou pessoas entre (coisas de) homem e (coisas de) mulher;
- A crença de que pessoas não-binárias na verdade são cis, ou pessoas trans binárias com cissexismo internalizado, e que não merecem estar em comunidades para pessoas trans, ou terem acesso a recursos trans como terapia hormonal, cirurgias de redesignação sexual, etc.;
- Entre outras crenças relacionadas.
2. Criação e controvérsias
Antes de existir exorsexismo, era comum que as pessoas se referissem à discriminação de pessoas não-binárias em comunidades anglófonas como nonbinary erasure (apagamento não-binário). Isso porque várias instâncias de exorsexismo são simplesmente pessoas não percebendo que mulheres e homens não são as únicas pessoas que existem.
Porém, pessoas não-binárias são alvos de chacota mais aceitáveis para váries trolls, e somos inclusive alvos de chacota porque pessoas trans binárias podem nos usar para se alavancar: afinal, elas são só pessoas que nasceram no corpo errado e que precisam de cura, enquanto nós somos meninas que queremos ser especiais com termos novos e linguagem diferente.
Pessoas abertamente não-binárias também possuem mais dificuldade em conseguir hormônios e cirurgias, até porque não temos como ser muito cisnormatives quando não existe um padrão de gênero sob o qual podemos ser avaliades. Também não temos como parecer pessoas cis de nossos gêneros.
Também temos pessoas dentro da comunidade LGBT+ que querem nos reduzir a um gênero binário ou outro, para não terem que reconsiderar o que significa gay, hétero ou bi.
Enquanto muitos desses exemplos cabem em apagamento, poderia ser bom ter uma palavra mais impactante para tais coisas, não?
A palavra óbvia seria binarismo, mas, pela história dessa palavra com relação ao apagamento e discriminação contra gêneros e pessoas de gêneros fora de homem e mulher em povos de certas culturas, o argumento de apropriação se tornou uma arma para as pessoas que já não gostam muito da ideia de existir vocabulário próprio para pessoas não-binárias.
Daí vem toda aquela história de dizer que pessoas brancas só querem ser oprimidas. De que como binarismo é somente em relação a pessoas de certas culturas, pessoas brancas não-binárias não sofrem de opressão mais específica que cissexismo. O que é chato até para pessoas não-binárias que não são brancas, mas que também não sofrem de binarismo por não viverem em alguma cultura que teve gêneros atacados e apagados por não serem homem ou mulher.
Depois de múltiplas consultas com pessoas trans binárias e não-binárias, inclusive pessoas racializadas, Vees (vergess/intersex-ionality no Tumblr) fez uma postagem apontando alternativas para como chamar essa discriminação específica contra pessoas não-binárias. Mesmo com a pesquisa final mostrando polarsexismo com uma grande vantagem, exorsexismo foi a palavra que ficou, talvez pela popularidade do blog exorsexistbullshit.
Obviamente, a palavra ainda foi repetidamente atacada, tanto por "apropriar binarismo" quanto por "deixar implícito que pessoas trans binárias não são oprimidas". E, obviamente, porque pessoas não-binárias não são oprimidas de verdade, são só pessoas cis querendo ser especiais e etc. etc. etc.
Mesmo assim, existem duas vantagens óbvias da palavra, as quais são evitar o sufixo -fobia e incluir qualquer pessoa que não seja 100% homem ou 100% mulher, independentemente da pessoa se identificar como não-binária ou não.
3. Exemplos, para entender melhor, eu acho?
a) É mais fácil explicar para pessoas cis o que é um homem trans do que explicar o que é uma pessoa gênero-fofo;
b) As pessoas em geral vão levar mais a sério ume andrógine do que uma pessoa poligênero;
c) As pessoas em geral vão insistir em usar pronome ele ou ela (especialmente em relação com o gênero que a pessoa pensa ser o "gênero de verdade" da pessoa não-binária);
d) Uma pessoa gênero-fluido mulher/homem vai ser levada mais a sério do que uma pessoa fluxofluida;
e) Uma pessoa raramente vai passar como não-binária. O máximo que acontece é ter pessoas se confundindo sobre o gênero da pessoa, mas elas só vão considerar gêneros binários.
Para finalizar, vale lembrar que pessoas podem sofrer tanto por transmisoginia quanto por exorsexismo. Uma coisa não invalida a outra. E que não adianta ficar quantificando opressão, especialmente quando ela toma formas diferentes.